26 dezembro 2010

2ª Revelação - "Adeus a vida" Fatima Ferreira

Esta música era a minha música e do Cândido, quando começamos o nosso "namoro", e que mais tarde, foi-lhe diagnosticado um cancro na cabeça.

Não me recordo, se naquela época era esta senhora que cantava esta música. Mas, foi a única que encontrei aqui no youtube.

Voltando à saida do cemitério, depois da conversa com a minha "prima" afastada. Ao chegar perto da casa da casa da minha tia Celeste. Vejo a minha prima Maria José, ou Zézinha(a coisa dos inhos/inhas)...

Eu estou hospedado em casa da minha tia Celeste. Esta minha tia foi casada com o segundo irmão da minha mãe. O meu tio Joaquim. Eles tiveram 5 filhos. O Zé é o filho mais velho da minha tia Celeste e do meu falecido tio Joaquim, e foi ele que tomou a iniciativa de fazer o encontro de Natal. Jantar com o objectivo de promover um encontro de toda a familia.

Corremos um para o outro. Não vejo a Zézinha, desde o funeral da minha mãe. A Zézinha é irmã do Cândido. Depois da morte do Cândido, a minha tia entrou numa depressão profunda. O meu tio decidiu emigrar para a Alemanha. Na Alemanha nasceram mais dois primos. A Milene e o Patrick.

A Zézinha casou e divorciou-se. Tem duas meninas, que eu não conheço. As filhas ficaram na Alemanha com o pai. Elas não falam português. Só veio o Patrick(o mais novo) com ela.

Depois da alegria do re-encontro. Muitos beijos e abraços. Muita conversa para colocar em dia. Até que ela me diz:

Zézinha: - Vamos ao "Pão da Tia"?

Para quem não sabe. O "pão da Tia" é um pão tradicional da zona de Leiria/Fátima. É mais ou menos um pão com chouriço, com passas de uvas(também existem passas de figo). Depois abrimos o pão e colocamos um pouco de azeite e açucar. Uma delicia...

Depois de decidirmos qual o melhor transporte a utilizar. A vila onde se pode comprar o "pão da tia", fica a 8km, da aldeia. Optámos por levar um trator do meu primo. Estávamos a começar a nossa viagem:

Zézinha: - Onde aprendeste a conduzir um trator?

Francisco: - Foi o Cândido que me ensinou, quando vinhamos para a vindima da avó...

Zézinha: - Faz tanto tempo. Ainda te lembras... De conduzir?

Francisco: - Claro que sim(correram-me lágrimas pelo rosto)... E, sei que a tua mãe tinha algo para me contar, mas que nunca o chegou a fazer...

Zézinha: - Sabes que isso. Que esses temas são, algo muito complicado para mentalidades dos nossos pais. Eu só contei à familia que estava divorciada, 6 anos depois. Até lá o Mark estava sempre a viajar...
Mas sei, o que a minha mãe te queria contar. E, o quanto ela te queria pedir desculpas...

Francisco: - Desculpas???!!!

Zézinha: - O teu "amor" entre tu e o meu irmão. "Mexeu" muito com a mentalidade dos nossos pais. Aquilo que ao inicio parecia uma coisa inofensiva, uma grande amizade de primos. Veio a revelar-se uma situação mais complicada.

Na noite que tiveste falta de ar. Foste parar ao Hospital de Santa Maria. O Cândido fugiu de casa, quando foi proibido de sair de casa. Foi encontrado a dormir ao teu lado na cama do hospital. Como entrou, como te descobriu. Ninguém sabe...

Na semana, em que os médicos disseram que não chegarias ao final da semana. O Cândido não saiu do teu lado. Era a pessoa que te levava água, quando choravas com sede...

Francisco: - Lembro-me disso, vagamente...

Zézinha: - Para os nossos pais, isso era uma amizade de primos. Para a nossa avó... Que sabedoria...

Quando a familia se apercebeu de que a vossa amizade, era mais do que uma amizade. Os nossos pais, chegaram a desejar a morte de um de vós. Não importava qual...
Se ambos morressem, tanto melhor. Desculpa, mas este sentimento era sentido tanto pelo meu pai, como pelo teu...

O Cândido, na fase final. Pediu para morrer na casa da avó. No quarto e na cama onde voces dormiram. A avó, aqui teve um papel muito importante. Porque ninguém se atreveu a enfrentar. A avó, quando dizia SIM. Era, SIM e ponto final.

A morte do Cândido foi-te escondida ao longo destes anos todos. O Cândido morreu no dia de Natal de 1987. Amanhã às 11h30, faz 23 anos que ele faleceu.

Ele morreu a ouvir a música "Adeus à vida", uma música muito ouvida naquele tempo. Ele tinha a cassete no gravador, e tinha escrito uma carta...

A minha mãe leu a carta muitas vezes, centenas de vezes. E, cada vez que a lia, só chorava de raiva e de dor. Ela acabou por rasgar a carta. Como a leu, tantas vezes. Sabia a carta de frente para trás...

Despediu-se da avó, do meu pai, da minha mãe, de mim, da familia e de ti. Não te chamou Francisco, mas sim: - "Ao meu primo e namorado Kiko"...

À muito que eu tinha parado o trator, eu sentia arrepios de frio pelo corpo todo. As lágrimas corriam-me pelo rosto abaixo. Ninguém me trata por KIKO, e creio que ninguém sabia, que eu dava pelo nome de kiko. Foi um nome inventado pelo Cândido, e com ele, o KIKO morreu...

Ele pediu a Deus para te proteger e para te dar tudo, o que ele não teve oportunidade de ter. Que te desse muitos lápis de cera. Tu eras louco por lápis de cera. Que fosses muito feliz, em todos os anos da tua vida...

E, acabou com: - "KiKO I love you, amo-te com letra grande"

7 comentários:

Myke disse...

Francisco, que idade tinha o teu primo kIKO quando faleceu?
Abraço

João Roque disse...

Talvez o teu post mais comovente que já li. O mais pessoal decerto!
Fizeste-me chegar a lágrima ao canto do olho...também não é preciso muito.
É por estas coisas que gostarei muito de te conhecer pessoalmente, pois tenho vindo a verificar que és uma pessoa muito especial, daquelas de quem se gosta muito facilmente.
E sabes, os bons Amigos são raros, não se pode perder a oportunidade de os arranjar...
Abraço grande.

Unknown disse...

Que historia Francisco. Que idade tinham na altura? Até eu senti um arrepio e acabei por reler três vezes o teu post. Enfim... Deixo-te um abraço

Francisco disse...

Myke o meu primo tinha 19 anos quando faleceu. Um jovem...

O kiko sou eu. Era assim que ele me chamava

Abraço

Francisco disse...

Olá Pinguim, imagino que sim. para mim, tb não foi fácil saber algumas coisas. Eu sempre pensei que o meu primo tivesse falecido entre Março/Abril. O Porquê? Não sei e creio que nunca o saberei.

Eu volto para Lisboa no inicio de Janeiro, depois será mais fácil combinarmos um encontro.

Abraço e até Breve

Francisco disse...

Olá Speedy, eu tinha 17 anos e o meu primo 19 anos, na altura em que ele faleceu.

Abraço

Myke disse...

Que sentes quando vês o filme do começo ao fim?
Abraço