Sábado à tarde, está a pingar, porque isto nem pode ser considerado que esteja a chover. Deitado no sofá a ver qualquer porcaria na TV. Não faço a mínima ideia do Tiago, creio que deve estar no Call Center ou na cama com outro. Confesso que isso nada interessa ou pouco importa para o caso.
Posso dizer que ainda sou do tempo, em que o tempo era regido pelas 4 estações. Que por esta altura, o calor era quente e forte. As noites quentes que se faziam sentir, fazia com que nós pequenos fossemos para a rua jogar aos policias e ladrões; jogar às escondidas; que maravilha quando a EDP cortava a luz era a escuridão total na rua e nas janelas das casas, colocavam-se vela. Também os vizinhos colocavam velas nos patamares para que se pudesse ver alguma coisa, quando fossemos para casa.
A alegria começava a surgir nos meados de Junho, começava com a fogueira do Santo António. Queimava-se os apontamentos, alguns livros(afinal no ano seguinte eram todos diferentes). Para os nossos pais era mais um custo, ter que comprar livros novos. Para nós míudos quem é que queria levar o livro do irmão ou do amigo? Queríamos em Setembro ir às compras e sentir o cheiro dos livros e cadernos novos.
Mas, até Setembro! Ainda faltava tanto. Eram três meses de férias. O que fazer com tanto tempo livre?! Não se preocupem que a rapaziada se arranjava. Afinal, ficar parado em casa, era sinal de estar doente...
Saía-se de casa para a rua por volta das 10 da manhã. Sentávamos-nos em qualquer pedra à beira estrada, numa escada de entrada de qualquer prédio. Cafés?! O que era isso? Apenas aquele local onde íamos pedir um copo de água, quando o calor apertava ou comprar um gelado por 20 escudos. Todos os anos a Olá aparecia com um gelado novo, era a loucura da miudagem. Quem não se lembra, do Perna de Pau, do Corneto, do Epá com pastilha....
Lá íamos almoçar quando a mãe nos vinha chamar por volta do meio-dia e meia. O almoço demorava entre 15 a vinte minutos. Era um desperdício de tempo estar em casa. Afinal, estávamos de férias...
Da parte da tarde, íamos até uma quinta que havia atrás de nossas casas. 15 minutos a pé, lá estávamos em contacto com a natureza, com o fresco das árvores e começava-se a jogar aos índios e cowboys. Durante o fim de semana, íamos para os prédios em construção, onde uma equipa era a residente e a outra tinha que entrar e matar toda a gente. Numa dessas brincadeiras, estava eu escondido com o Luís dentro de um género de dispensa. Estávamos tão apertados, que acabámos por nos roçar um no outro e o óbvio aconteceu...
O Luís era primo direito do Alexandre que era o melhor amigo do meu irmão mais velho.
No final da tarde, juntávamos-nos todos depois do lanche, numas escadas que dava para um centro de gás. Ali passávamos horas na conversa, a contar anedotas, e a jogar cartas e outros jogos. Jogávamos ao berlinde(guelas para os machos), peão, à carica, Todos os dias, alguém inventava um jogo.
Até houve alguém que deu a sugestão para cada um ter o seu jardim, de modo a tornar as traseiras dos prédios mais giras e floridas. Ainda hoje, estão lá alguns cactos, laranjeiras e pessegueiros. O resto das flores e plantas foram morrendo ou foram substituídas por outras.
Lembrei-me da Margarida e do Mark terem mencionado o jogo de cartas, algures num post publicado por eles.
Nós jogávamos ao "Peixinho", "Krapôt", "King", que grande chatice fazer tantas contas, e ter que ir às festas. O "Burro" era uma seca como a "paciência". Adorava o "Sobe e desce" começava-se nos 50 e ganhava-se aos MIL. Imaginem o tempo que demorava um jogo destes! A sueca!? Quem sabe jogar à Sueca? De todos o meu jogo preferido de cartas.Fazíamos campeonatos e mais campeonatos, jogávamos contra os nossos pais e o avô do João Filipe. No Final, a equipa Luís e Francisco ganhava o que havia para ganhar. Se era sorte?! Não sei...
Com a prática de jogar, começamos a trocar "sinais". A sueca foi um jogo para ser jogado por mudos e surdos. Era proibido falar. Nós riamos-nos e lá saía um ás ou uma manilha de trunfo. Nem com os batoteiros dos nossos pais a fazer renúncias, nós perdíamos... O Luís era um expert também a fazer renúncias(não assistia quando tinha que assistir, ou seja, jogar a mesma carta do naipe que tinha sido colocado na mesa).
Engraçado! O que a nossa mente consegue recordar. A minha amizade com o Luís começou quando deveríamos ter oito ou nove anos. Somos do mesmo ano. Ele nasceu em Maio, mais concretamente no dia 1.
Já o conheço há mais de 30 anos, e só o vejo uma vez por ano no aniversário do primo Alexandre. Ainda fazemos pares na Sueca,por vezes ganhamos outras nem por isso...
Nunca mais falámos no assunto, desde que ele arranjou namorada, casou e teve duas filhas.
10 comentários:
Recordações de belos tempos.
Quem as não tem?
João Roque,
Bem verdade :)
Abraço amigo
Muito bem escrito Francisco. As tuas palavras conseguem-nos transportar para as situações vividas com grande riqueza. Fizeste-me lembrar partes da minha própria infância/adolescência. Que saudades de brincar na rua. Hoje os miúdos brincam dentro dos Centros Comerciais...
Abraço amigo e continuação de bom fim-de-semana.
boas memórias as tuas.
cada vez mais me recordo, por esta altura, das férias de verão na aldeia, até aos meus 11 anos, as cartas, o ludo, o xadrez, o dominó, as damas, as caricas, o volei, cuja rede era o portão da quinta, os índios e cobóis - não chamávamos assim, mas designávamos por norte (no povo) e sul (a partir da descida do monte do outeiro), os barquinhos de corcódoa dos pinheiros que botávamos a navegar nos riachos da água das regas, as leituras dos patinhas e capitão américa num velho pinheiro, os sustos que fazíamos às avós e mães com as peles ressequidas das cobras quando mudavam a fatiota, :D... enfim, tudo o que se possa imaginar numa aldeia em que andávamos à vontade.
bjs.
Arrakis,
És muito simpático :)
Bom fim de semana para os dois :)
Abraço amigo
Margarida,
Da aldeia lembro-me da Avó e do Cândido :)
Creio que tive uma infância tranquila e feliz :)
Adoro jogar xadrez e monopólio :)
Beijinhos grandes
ir para casa dos meus avós cultivar (sujar-me, molhar-me). comer ah sombra das vinhas...que saudade...
ja passei horas a jogar xadrez, cartas, damas, com os meus amigos da altura no cafe enquanto as nossas mães falavam, pertenciam ah direcção da colectividade...
abraços
aoc36
Bons tempos :)
Abraço amigo
Francisco, sou 1 pouco mais novo que tu.. mas revejo a minha infancia completamente na tua! Era tâo bom, e tâo diferente dos dias de hoje.. cada dia era interminavel e uma tremenda aventura!
CMBA(Carlos)
Bem verdade! Óptimas recordações :)
Obrigado por teres comentado este canto. Volta sempre...
Abraço
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