08 janeiro 2012

2ª Narração - Platoon Soundtrack

O meu pai esteve na Guerra Colonial da Guiné, mas sempre foi um homem que educou os filhos com uma educação nada militarizada. Apenas dizia o primeiro nome de cada filho, abria os olhos... E, ficávamos logo em sentido...
Apenas a minha avó paterna, é que conseguia colocar naqueles momentos mais tensos um sorriso naquele ar sério do meu pai com apenas esta frase: - "Sabes os nomes dos teus filhos! Abre muito os olhos, e ainda apanhas uma corrente de ar, que ficas vesgo..."

O meu pai não tem nenhuma tatuagem a dizer "África mil novecentos e troca..."; "Amor de mãe"; desenhos de águias e leões; e, sempre disse aos filhos: - "Ai! Algum de vós coloque uma tatuagem ou deixe crescer o cabelo... Coloco-vos as malas à porta e rua..." Não quero paneleiros cá em casa...
Já dizia a minha avó: - "Pela boca morre o peixe"... O filho Francisco saiu panilhas... LOLOLOLOLOLOL

Nunca ouvi o meu pai com insónias por causa da guerra, com ataques de ansiedade, nunca maltratou os filhos ou quem quer que seja. Sempre teve uma postura ao longo destes anos, muito discreta. A realidade é que ele carrega o peso da dita guerra todos dias no pensamento...

A verdade é que este país enviou para África jovens com idades dos dezanove aos vinte e poucos anos. Jovens que levavam as "hormonas aos saltos", porque eram jovens, alguns nunca tinham visto o mar antes... Só que agora tinham armas na mão e tinham que obedecer a pessoas que se intitulavam como seus "superiores". Jovens que descobriram que "brincar aos índios e aos cowboys", podia sair caro... E, bem caro que a brincadeira saiu para alguns.

No fim desta narração eu digo quais são os dois grandes pesos que o meu pai carrega. Só recentemente é que a família ficou a saber a dura realidade que o homem carrega desde que voltou da dita guerra...

4 comentários:

João Roque disse...

Não há ninguém que lá tivesse estado que não carregue esse fardo com ele, durante toda a vida...

Francisco disse...

Imagino o fardo de quem lá esteve...

Forte Abraço

um coelho disse...

Eu, pelo contrário, não consigo imaginar. Penso, por exemplo, quando tenho de passar numa rua escura e deserta e tenho receio que apareça alguém e me faça mal, ou quando o carro dá uma guinada por ter feito alguma curva demasiado depressa e sinto um frio a percorrer-me o corpo. E penso que poder estar num sítio onde se corre o risco de a qualquer momento ser abatido deve ser uma situação ampliada milhares de vezes.

Francisco disse...

Um Coelho,

Sim concordo, em tudo contigo :)

Abraço

P.S - Se for num beco escuro, que eu encontro um daqueles "reis magos", uhmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
espero que a "guerra" seja outra ehehehehehehe ;)