20 novembro 2020

Quando o passado nos bate à porta

 

Há muitos anos atrás, era eu um rapaz apaixonado por ti. Eu nos meus vinte e poucos anos e tu mais velho que eu, uns trezes, catorze anos. Tu trintão e com muitos gajos atrás de ti, pelos teus lindos olhos azuis e um sorriso bonito. Eras um gajo trintão e tio da linha de Cascais. Eu um gajo dos subúrbios como tu dizias. 

Muitos anos depois, já eu nos trinta e tu nos quarenta. Voltamos a nos encontrar em outro local gay. Todos voltamos ao circuito, mais cedo ou mais tarde. E, lá voltaste tu a optar por outro e com quem foste viver e viajar... Tudo certo, a vida é de opções e tu tomaste a tua...

Agora vivemos no mesmo subúrbio, voltamos nos a encontrar, não num local de engate mas sim através de uma aplicação. Acedi ir a tua casa beber um café e conversar um pouco contigo. 

Entendo que já estejas reformado, que tenhas feito muitas viagens, que bom para ti (desculpa ter omitido ou até mentido que saí poucas vezes de Portugal). 

Continuas igual, a olhar sempre para o teu umbigo. E, só fui beber um café. Imagina a seca que seria para mim, se fossemos jantar. A tua cara quando me ouviste dizer que trabalhava num call center... 

Poderia ter contado e agradecido por aquela noite em que me sugeriste o curso X. De facto, aconteceu tirar uma licenciatura, mas tu optaste por pensar que eu tivesse ficado pelo 9º ou 12º ano. Nada contra, mas estudei um pouco mais... 

Quanto às viagens, aprendi a ser modesto e a estar calado. Nunca me perguntaste se eu conhecia ou tinha lá estado. Pouco importa, melhor assim... Estavas tão contente com os 5 países onde estiveste. 

5 países conheci eu o ano passado em meia dúzia de meses lololololol De facto, estive nos 5 países onde estiveste lolololol 

Verdade! Estive na Grécia duas ou três semana e conheci algumas ilhas, mais do que o teu cruzeiro de 3 ilhas. Sim, também já fiz um cruzeiro nas ilhas gregas... 

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