10 fevereiro 2011

Cigano - "MUSICA RAIZ CIGANA"

Como tudo na vida, há gente boa e gente que não interessa a ninguém. Que raio de sina, hoje lá voltei à rua 25 de Abril, no bairro manhoso.
Pior que alguém ficar preso no elevador, é ir alguém ir fazer as cobranças. Foi o que aconteceu: "Sem dinheiro, não há palhaço".

Lá fui eu com o Filipe. O rapaz é catita, ambos estávamos à espera que ninguém aparecesse, assim iamos embora e eu informaria que o prédio tinha que ir para tribunal. Ponto Final.

Estamos a chegar à porta, surge um casal de ciganos na cada dos quarenta e muitos anos. E, começou a troca de palavras:

Cigano: - Os sexôres são do elevador?

Cigana: - Caralho, puta que pariu o elevador está sempre a avariar. É desta que arranjam este caralho?

Tentei fazer um ar afável, não mostrar medo e tentei ser o mais assertivo possível e adivinhar que ali seriam os meus últimos dias de vida...

Francisco: - Não minha senhora. Viemos desligar o elevador por falta de pagamento e se não liquidarem a dívida nos próximos tempos. Seremos obrigados a colocar o condominio do prédio em tribunal.

Só vejo a cara do cigano a ficar de todas as cores, um ar de zangado mesmo. começa a correr pelas escadas acima e a gritar:

Cigano: - Eu mato aquela puta. Andamos nós a trabalhar de sol a sol e aquela grande filha da puta, anda-nos a roubar.

Cigana aos berros: - Mes meninos. Nós pagamos todos os meses. Subir 6 andares custa muito e os meus piquenos. Tenho 10 netos. Isso é mentira. Nós pagamos todos os meses uma fortuna para o caralho do elevador. Somos 15 lá em casa, o elevador só leva 4 pessoas de cada vez. Não podem colocar um elevador mais largo?

"Claro que sim, fazemos um elevador na rua. Ou deitamos o prédio abaixo e fazemos um buraco maior..."

Só ouvimos murros nas portas, pontapés e gritos. Quando dei por mim, o prédio estava cheio de ciganos, pretos, romenos, brasileiros. Todos aos berros e a dizer cada um de sua justiça. No meio daquela gente, fixei o olhar com um cigano que deveria ter os seus trinta anos. Ele estava com uma mulher cigana muito atraente e tinha dois miudos pequenos ao lado de cada perna e uma miuda ao colo. Que pai!!!!!

Com a troca de olhares do cigano, perdi o "norte". Deixei de ouvir e de ver o que estava a acontecer à minha beira:

Cigana: - Mê mininu, venha prá minha beira. Não apague o elevador. Nós precisamos tanto dele. Vejas as minhas pernas, cheias de variz(varizes). Fale com a policia, que nós vamos resolver tudo a contas limpas. Acredite em mim, por honra da minha familia e pela minha querida mãe. Ela já está no céu, mas sempre foi um anjo com um coração como o do mininu.

Quando dei por mim, eu e o Filipe já estámos na rua, dentro de um circulo feito por massa cigana e de pretos. Quando o cigano aquem eu estava a "galar":

- Sinhôr, somos gente pobre, mas boa. Faça o favor, de nos dar tempo para resolvermos este assunto com a vizinha que ficou de fazer os pagamentos.

Eu só queria acabar com aquele "festim" e ir-me embora dali pra fora o mais rápido possível. Disse:

Francisco: - Certo! Quando é que me pode dar uma resposta?

Cigano: - Dê o seu telefone, depois do almoço está resolvido...

Estiquei a mão, demos um forte aperto de mão. Ele sorriu-me e disse:
"Gosto de gente honesta e com bom coração. Sempre que vierem a este bairro,digam que vem ver o tio jaquim"

Francisco: - Sr. Joaquim, o prazer foi nosso.

Risada geral, o tio jaquim é o pai do cigano. O cigano chama-se Zé

Nota importante:
Eram 14h, no escritório apareceu o tio jaquim, o Zé, dois pretos daquele de "meterem medo" e um homem de bigode. O homem estava com um ar de medo e que já tinha "almoçado" antes de lá chegar. O senhor abriu a carteira e tirou o dinheiro certo para fazer a liquidação da dívida total.

Fiquei a saber pelo Zé, que eles foram buscar o senhor a Évora. O senhor é o marido da administradora do prédio.

3 comentários:

João Roque disse...

Esta história, uma história de confiança e uma lição de como devem ser as relações humanas, por estranho que pareça, fez-me vir à lembrança, certas coisas com que fui confrontado na minha comissão militar em Moçambique, como Comandante de Companhia.
Há que estabelecer, sempre com bom senso, um equilíbrio entre quem deve fazer cumprir a lei e quem está em falta.
Foi o que fizeste!

Francisco disse...

Olá Pinguim,

Aproveito para te desafiar a escreves alguns posts acerca da tua "vida" enquanto comandante na guerra do ultramar.

Quantas histórias(realidades) terás tu para nos contar na 1ª pessoa?

Abraço

João Roque disse...

Já te respondi no meu blog; apenas te peço que me envies por mail, de novo, o teu mail, pois eu tenho quase a certeza de que é um que tenho guardado na agenda, mas não tenho a certeza se é o teu.
Abraço.