Como tudo na vida, há gente boa e gente que não interessa a ninguém. Que raio de sina, hoje lá voltei à rua 25 de Abril, no bairro manhoso.
Pior que alguém ficar preso no elevador, é ir alguém ir fazer as cobranças. Foi o que aconteceu: "Sem dinheiro, não há palhaço".
Lá fui eu com o Filipe. O rapaz é catita, ambos estávamos à espera que ninguém aparecesse, assim iamos embora e eu informaria que o prédio tinha que ir para tribunal. Ponto Final.
Estamos a chegar à porta, surge um casal de ciganos na cada dos quarenta e muitos anos. E, começou a troca de palavras:
Cigano: - Os sexôres são do elevador?
Cigana: - Caralho, puta que pariu o elevador está sempre a avariar. É desta que arranjam este caralho?
Tentei fazer um ar afável, não mostrar medo e tentei ser o mais assertivo possível e adivinhar que ali seriam os meus últimos dias de vida...
Francisco: - Não minha senhora. Viemos desligar o elevador por falta de pagamento e se não liquidarem a dívida nos próximos tempos. Seremos obrigados a colocar o condominio do prédio em tribunal.
Só vejo a cara do cigano a ficar de todas as cores, um ar de zangado mesmo. começa a correr pelas escadas acima e a gritar:
Cigano: - Eu mato aquela puta. Andamos nós a trabalhar de sol a sol e aquela grande filha da puta, anda-nos a roubar.
Cigana aos berros: - Mes meninos. Nós pagamos todos os meses. Subir 6 andares custa muito e os meus piquenos. Tenho 10 netos. Isso é mentira. Nós pagamos todos os meses uma fortuna para o caralho do elevador. Somos 15 lá em casa, o elevador só leva 4 pessoas de cada vez. Não podem colocar um elevador mais largo?
"Claro que sim, fazemos um elevador na rua. Ou deitamos o prédio abaixo e fazemos um buraco maior..."
Só ouvimos murros nas portas, pontapés e gritos. Quando dei por mim, o prédio estava cheio de ciganos, pretos, romenos, brasileiros. Todos aos berros e a dizer cada um de sua justiça. No meio daquela gente, fixei o olhar com um cigano que deveria ter os seus trinta anos. Ele estava com uma mulher cigana muito atraente e tinha dois miudos pequenos ao lado de cada perna e uma miuda ao colo. Que pai!!!!!
Com a troca de olhares do cigano, perdi o "norte". Deixei de ouvir e de ver o que estava a acontecer à minha beira:
Cigana: - Mê mininu, venha prá minha beira. Não apague o elevador. Nós precisamos tanto dele. Vejas as minhas pernas, cheias de variz(varizes). Fale com a policia, que nós vamos resolver tudo a contas limpas. Acredite em mim, por honra da minha familia e pela minha querida mãe. Ela já está no céu, mas sempre foi um anjo com um coração como o do mininu.
Quando dei por mim, eu e o Filipe já estámos na rua, dentro de um circulo feito por massa cigana e de pretos. Quando o cigano aquem eu estava a "galar":
- Sinhôr, somos gente pobre, mas boa. Faça o favor, de nos dar tempo para resolvermos este assunto com a vizinha que ficou de fazer os pagamentos.
Eu só queria acabar com aquele "festim" e ir-me embora dali pra fora o mais rápido possível. Disse:
Francisco: - Certo! Quando é que me pode dar uma resposta?
Cigano: - Dê o seu telefone, depois do almoço está resolvido...
Estiquei a mão, demos um forte aperto de mão. Ele sorriu-me e disse:
"Gosto de gente honesta e com bom coração. Sempre que vierem a este bairro,digam que vem ver o tio jaquim"
Francisco: - Sr. Joaquim, o prazer foi nosso.
Risada geral, o tio jaquim é o pai do cigano. O cigano chama-se Zé
Nota importante:
Eram 14h, no escritório apareceu o tio jaquim, o Zé, dois pretos daquele de "meterem medo" e um homem de bigode. O homem estava com um ar de medo e que já tinha "almoçado" antes de lá chegar. O senhor abriu a carteira e tirou o dinheiro certo para fazer a liquidação da dívida total.
Fiquei a saber pelo Zé, que eles foram buscar o senhor a Évora. O senhor é o marido da administradora do prédio.
3 comentários:
Esta história, uma história de confiança e uma lição de como devem ser as relações humanas, por estranho que pareça, fez-me vir à lembrança, certas coisas com que fui confrontado na minha comissão militar em Moçambique, como Comandante de Companhia.
Há que estabelecer, sempre com bom senso, um equilíbrio entre quem deve fazer cumprir a lei e quem está em falta.
Foi o que fizeste!
Olá Pinguim,
Aproveito para te desafiar a escreves alguns posts acerca da tua "vida" enquanto comandante na guerra do ultramar.
Quantas histórias(realidades) terás tu para nos contar na 1ª pessoa?
Abraço
Já te respondi no meu blog; apenas te peço que me envies por mail, de novo, o teu mail, pois eu tenho quase a certeza de que é um que tenho guardado na agenda, mas não tenho a certeza se é o teu.
Abraço.
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