Na Capela mortuária, familiares e amigos aproximava-se do caixão onde estava o pai de Alexandre. Poucos tiveram a coragem de mexer no lenço que tapava o rosto do falecido. Alexandre estava sobre o efeito de comprimidos para que não lhe desse uma coisinha má...
Frederico e Pedro foram os primeiros a chegar dos amigos. Sebastião chegara com Rui e juntaram-se a Frederico e Pedro. Comentavam a ausência de Francisco e de Miguel. Fala-se no diabo e Miguel aparece ao fundo da porta, falou Pedro entre os dentes. Miguel surgiu logo com a André atrás de si e com um grande ramo de flores. Bruno aparecera mais tarde com um novo amigo. Apareceu o Psiquiatra de Alexandre acompanhado com uma linda mulher de olhos azuis. O Psicólogo também deu ares da sua graça e colocou perto de Mãe de Alexandre. Alexandre não tugia nem mugia, estava sentado numa cadeira olhando para o infinito. Parecia um morto vivo...
Francisco surge acompanhado de António, este viera de propósito a Portugal para o funeral do pai de Alexandre. Todos estava admirados, com a sua presença. Os dois cumprimentam os amigos e dão os pêsames a quem é de pêsames.
Aproximam-se do caixão e rezam os dois em silêncio, não um Pai Nosso ou uma avé Maria, mas sim uma prece ao Barqueiro das almas. Discretamente ambos deixam cair uma moeda como forma de pagamento ao barqueiro.
Pai de Alexandre era um homem muito peculiar, que adorava tudo o que fosse simbologia e que iniciara António e Francisco nos anos noventa. Tinham-se conhecido em Belém junto ao rio. António e Francisco ficavam maravilhados com o Pai de Alexandre durante horas a fio de conversa... Grandes tertúlias e transmissão de conhecimentos que foram transmitidos...
Agora ali estava o pai/mestre/professor onde ambos prestavam a sua última homenagem por todo o conhecimento adquirido.
António e Francisco aproximam-se de Alexandre e este no seu "mundo" ouve uma voz super calma e tranquila a dizer-lhe um olá e que vai ficar tudo bem.
Alexandre quer abraçar aquela voz, não consegue mexer qualquer membro. Quer gritar e a sua boca não se mexe, nem pronúncia qualquer som ou palavra.
Alexandre tem um rasgo de memória e recorda daquela voz, aquando estava deitado na cama de hospital. Naquela altura sentira uma mão quente a tocar-lhe e a dizer algo para o pai. Alexandre estava desperto e conseguia ver pelas ligaduras que lhe tapava o rosto. Vira António a dar um grande abraço ao seu pai, este chorava e António apenas dizia: - Vai ficar tudo bem... Acredita que vai...
Sente um beijo quente na testa, conforme sentira naquele dia no hospital. Um beijo na testa, igual a um sinal de Respeito
Alexandre faz um esforço enorme e consegue tocar a mão de Francisco e de António. Ele estava sentado no meio dos dois, naquele momento.
2 comentários:
Apesar das circunstâncias um momento único e lindo ...
Paulo Roberto
Ainda bem que estás a gostar :)
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