O Fernando que escreve aqui, enviou-me uns textos espectaculares que partilho convosco :)
Espero que gostem :)
"Um amor de juventude
Na província do país dois rapazes atingidos por um insuperável sentimento de amor mútuo iniciaram o que iria ser o seu último Verão juntos. Contavam ambos com 18 anos sendo que o amor entre eles não era muito mais novo. Aquela província de florestação verde, acastanhada e amarelada, cantarolada pelos mais diversos pássaros e encenada em vales e pequenas montanhas tornava-se num local de tal maneira melancólico a algo que se sabia já efémero. A separação era causada pela instabilidade de um deles, Luís, que por ser mais artista aquele seu meio natal incompletava-lhe. Esperavam-lhe a universidade e os encantamentos da cidade. Já João talvez continuasse a profissão humilde do pai. Ora ao contrário de Luís as possibilidades económicas dele não lhe possibilitavam acompanhar o seu anjo mas de certa forma talvez fosse essa a melhor solução se pudesse existir outra, pensava ele. João sentia-se por vezes com um sentimento de uma certa culpabilidade acusando-se de querer Luís só para si mas reconhecia que aquele meio não era propício à felicidade do namorado e que este precisava de sair.
Onde está a tão poderosa força do amor? Talvez o facto dos dois praticamente terem nascido com ele não conseguiam identificá-lo como a obra magna da vida. A Luís vinham-lhe sem dúvida sentimentos de medo pelo abandono do seu lugar mas principalmente pela perda que iria sentir por João. Como é estar sem o seu companheiro? Ele não sabia responder pois nunca sentiu tal coisa e este desconhecimento amedrontava-lhe ainda mais os seus receios.
-Diz-me para ficar! Tenho tanto medo! Por favor!
E João depois de um breve mas de nada vazio silêncio:
-Se queres que eu te diga para ficares, não vais ouvir isso de mim.
E as vozes deles flutuavam no meio das árvores alegres atingidas por umas leves brisas tipicamente de Verão.
Aquela paisagem bucólica parecia caracterizar aquele final de relação. «Eu não lhe trocava por nada deste mundo», pensava Luís enquanto se lembrava de todo o carinho que o outro lhe proporcionava. «Mas porque hei de sair daqui?» Era maravilhoso ter o poder de acomodar-se à terra onde estava como todos aqueles que agem desta maneira. Mas no fundo a sua alma era frágil que só tinha lugar no colo de João mas este achava que o seu calor era insuficiente para que Luís pudesse ser feliz.
«Como é viver sem ti?» - «Vais descobrir, vais-te extasiar na delícia da cidade».
«Lembro-me perfeitamente quando eu não conseguia realizar aqueles trabalhos escolares mas o Luís aparecia não só para me ajudar a ultrapassá-los, também para me amar. Eu não poderei ir com ele... Aonde irei então?» O mundo vivia numa situação onde uma vida relativamente pacata e agradável era bastante difícil de alcançar. Mas no caso de João não havia propriamente pormenores a temer até porque a sua família além de estar numa situação estável era carinhosa mas o que seria ver-se sem Luís? «Fica então comigo! Aqui ao meu lado é o teu lugar!» - Apenas pensava.
O amor entre eles era inquestionável apesar da província não ser propriamente o local para o Luís. O tempo ia passando sempre igual e monótono, ele enchia as almas sensíveis de tristeza acompanhava com uma certa ansiedade que se destacava no meio de sentimentos planos mas nada calmos. Tudo o que se vivia naquelas terras era um
sentimento contrário ao mar: algo fechado e pouco movimentoso. Ali as pessoas pareciam ter vivido toda a sua vida naquele lugar, como se tivessem surgido de lá, o facto daquele local transbordar de beleza e de uma agradável estabilidade originava um certo sofrimento muito típico daquele bucolismo.
«Vou ficar sem ele... Será que vou sofrer? O que é sofrer?»
«Ele não nasceu para viver aqui, ele é melhor que o mundo inteiro»
Talvez a vida seja mesmo algo para nos esforçarmos, para sermos alguém. Mas poderemos ser alguém sozinhos, como se vivêssemos no fundo de um longínquo rochedo?
Creio que ele vai chegar a um ponto em que não aguentará mais o que eu poderei-lhe dar com as minhas maiores forças, eu não sou tudo, aliás por algum motivo eu continuarei a viver bem onde estou.
Será que devemos gritar-lhes ao ouvido revelando a insuperável dor da separação? Sim o amor deles era verdadeiro, o amor é algo que apenas se sabe que ele existe, quando se ama verdadeiramente alguém, sabe-se que esse alguém é a pessoa perfeita, algo que todos nós somos dotados de saber. Um dia Luís chegava aterrado a casa pois falhava completamente na atividade desportiva obrigatória e João exclamou-lhe agindo depois também: «eu ajudo-te». Agora ao recordar este doce momento Luís chorava sem cessar questionando-se o que seria a separação.
«Vais ser feliz pois tu mereces...» declamou-lhe João em lágrimas.
«Só serei feliz se estiver contigo.»
Que importa ser alguém se podemos viver felizes com o novo amor?
E a felicidade é sinónimo de amor? Mas o que é o amor então? Naqueles rochedos embalados pelas folhas secas, nas colinas que desciam transbordadas em flores, aqui nestes sítios era onde pousavam todas as respostas a estas questões da Natureza. Tudo ali funcionava como uma alma bela que vive, apenas vive e ao contrário do que possa parecer aqui nada acaba, uma árvore vive, ela está ali e jamais se afasta, porque será? Já as flores caminham por todos os montes respirando todos os ares, tudo isto é amor, caminhando ou não, não se separam nunca do sítio onde estão, o amor é algo inseparável.
Algo assusta-me no destino destes dois amores: se eles vão separar-se que poderá isto significar? Que o amor não é a maior força da vida, que ele não é sinónimo de viver? Algo desesperante sinto eu.
«Eu vou contigo então! Seremos os dois felizes na cidade! Continuaremos a ser dois passarinhos como sempre fomos!»
Que tristeza viver num fim que não existe.
Numa manhã de Setembro João acordava pela primeira vez da sua vida sem o Luís."
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