26 janeiro 2014

Esquecer - Celine Dion "Je ne vous oublie pas"

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?


As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.


É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.


Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.


Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.


O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

12 comentários:

Lobo disse...

Respondendo directamente ao que perguntas, ou que o texto pergunta, não se esquece. Nunca se esquece. Acho que se cataloga e arruma. Fica ali na prateleira dos nossos gostos, dos nosso amores, das nossas dúvidas, das nossas desilusões... enfim, na nossa memória colectiva. Sobre o processo de cura, este não é igual para todos. Para uns basta ocupar a cabeça, para outros não. O segredo da "coisa" é cada um descobrir o seu e saber, que o passado deve ficar lá atrás, o mais arrumado possível, para não corrermos o risco de levantar certas pastas, ou de nos tornarmos rancorosos ou amargos. Gostava tanto de dizer: é assim! Mas não sei. E acho que a verdade, é que iremos aprender isso toda a vida, mas devendo ter sempre presente, que independentemente de tudo devemos ser fiéis a nós próprios. :) Bom domingo Francisco :)

Francisco disse...

Namorado,

Não perguntei nada, apenas partilhei um texto MEC :D

Lobo disse...

LOL Mas seja como for, resolvi esclarecer :P

Francisco disse...

Namorado,

E, fizeste tu muito bem :D

Anónimo disse...

Adorei a partilha é uma grande verdade...e quanto mais se tenta apagar todos os vestígios, mais se descobre que no coração, na alma e na memória as coisas não se apagam...permanecem. E por vezes custa imenso.

Abraço grande :3

Francisco disse...

João,

Tudo depende do tempo e da importância da pessoa

Digo eu

Abraço

Arrakis disse...

Já conhecia o texto e acho-o muito verdadeiro. Pode-se tentar relativizar a dor, mas não se pode enganá-la porque enquanto lá estiver, vai estar sempre presente. Não há como fugir.

Abraço amigo Francisco e boa semana.

Francisco disse...

Arrakis,

Rendido :D

Abraço amigo Arrakis e boa semana

João Roque disse...

Muito bom este texto do MEC.
Ela passou um mau bocado com a doença grave da mulher, mas ela conseguiu vencer a doença.

m. disse...

nunca se esquece. às vezes, o tempo ajuda, outras, tudo regressa.
olha, podia ser a letra U.
boa segunda-feira.
bjs.

Francisco disse...

João Roque,

O texto está excelente :D

Francisco disse...

Margarida,

De facto, tens toda a razão ;D

Beijinhos e boa semana