01 dezembro 2017

"Once upon a time..." - Episódio 193

Pedro enquanto conduz pensa no seu dia, tem a cabeça a mil com tanta informação... De manhã, ele fora ao hospital fazer novas análises e começar a fazer o tratamento de seguida foi ao encontro de pessoas seropositivas, onde alguns já vivem com o HIV há mais de 20 anos.
No grupo encontrara Miguel e Filipe entre outros com quem fodera no passado. Pedro sentia que estava numa sala, onde iria começar uma orgia, uma vez que a maioria dos presentes eram seus conhecidos em algumas plataformas de engate gays...
Miguel fora o primeiro a abrir a sessão no dia de hoje, Miguel é seropositivo há cerca de 8 anos. Tinha sido infectado por um ex-namorado, numa noite de copos, e no calor do momento Miguel deixara-se ser penetrado... O ex-namorado aproveitara o momento, cortara o preservativo e atingiu o climax dentro dele. Uma única noite, uma única foda e ganhara um prémio para o resto da sua vida. O seu corpo rejeitara inicialmente a medicação, só há cerca de 8 meses que mudara de tratamento é que começou a obrar, evacuar, cagar fezes sólidas. Antes, fazia tudo em diarreia sempre, por vezes levava várias cuecas dentro da mochila... Tantas vezes que se borrara na cuecas, por não chegar a tempo à casa de banho.

Depois foi a vez de Filipe, o seu discurso sempre emociona todos os presentes, quando conta a sua história que já tem cerca de 20 anos. Todos os presentes já conhecem a sua história, mas no final há sempre alguém com uma lágrima no canto do olho, quando não choram mesmo...
Há 20 anos, Filipe estava num processo de divórcio, pois conhecera o amor da sua vida, um jovem cheio de vida. Este processo não tinha sido fácil porque já tinha duas filhas menores, a mulher contara num jantar aos seus pais que o marido era gay. O Ambiente piorava a cada dia, um dia Filipe caíra na cama com fortes dores de garganta e calafrios. Fora parar ao hospital através do antigo 115 e que depois passou a ser o 112. No hospital fora-lhe diagnosticado HIV. Naquele tempo, pensava-se que o HIV se transmitia pelo suor, picadas de melga, beijos e abraços, entre outras coisas . Há quem ainda acredite aos dias de hoje nestas formas de contagio... A ex-mulher saíra de casa com as filhas, o pai deixara-lhe de falar e proibira a mulher a ter contacto com o filho. O irmão e as irmãs, também nunca o ajudaram em nada... Tinha morrido para a família...

Uma tarde fora de táxi para o hospital, porque os bombeiros da zona já sabiam que ele era gay com HIV e a ambulância nunca aparecera...
Nesse dia, enquanto esperava na farmácia do hospital pela medicação e para ganhar mais umas forças, sentia-se muito fraco para ir para a rua apanhar um táxi. Surge um rapaz à porta. Este rapaz dirige-se ao balcão, retira uma receita do bolso e pede a medicação. A farmacêutica pergunta-lhe como está a dar-se com a medicação. O rapaz diz-lhe que não sabe, mas que da próxima vez, diz-lhe porque irá questionar o beneficiário da receita. A farmacêutica é um pouco rude e diz-lhe que o rapaz pode contar-lhe a verdade, porque ela já está habituada a que as pessoas mintam, porque ainda é um estigma falar da doença. O rapaz tira o antigo Bilhete de Identidade da carteira, ao mostrar-lhe, pergunta-lhe: - Veja se o nome é igual ao da receita?! Essa medicação é para um amigo, que por acaso é o meu namorado... A farmacêutica olha para o Bilhete de identidade e começa a chorar e pede desculpas pelo sucedido. O rapaz recolhe a medicação e despede-se com uma boa tarde. Quando se vira, reconhece Filipe ali sentado na cadeira... Filipe?! Questiona o rapaz...

Filipe é levado até ao carro do rapaz e depois seguem para sua casa. Filipe vai dando as orientações, sem saber muito bem quem é aquele rapaz. Está demasiado fraco, esteve muito tempo sem medicação. O rapaz acompanha-o à cama, faz-lhe um chá rápido e prepara as doses dos comprimidos em pequenas caixas de plástico. O rapaz sai e volta passado algum tempo, fora ao supermercado e à farmácia comprar uns suplementos vitaminicos.
O rapaz trocara de número de telemóvel para o caso de Filipe precisasse de alguma coisa, durante o dia ou durante a noite...

Aos poucos Filipe foi recuperando as forças e foi estabilizando os níveis virais. A angústia da mãe aumentava cada dia que passava, pois há muito que não sabia nada do seu filho. Dizem que mãe é mãe, e quando um dos seus filhos está doente, fazem das tripas, coração... Um dia resolvera ir ver do seu filho, às escondidas e à revelia de toda a família.

Nessa tarde, enquanto tocava à campainha do prédio sem sucesso. Surge um rapaz por trás todo beto, com um enorme sorriso e carregado com um saco de compras e com a medicação do hospital. Pede com licença, que tinha a chave e que poderia abrir a porta. Aquele sorriso não era estranho à senhora enquanto esperavam pelo elevador, entram e dizem que vão para o mesmo piso. O Elevador sobe, e a mulher tenta descodificar de onde conhece aquele sorriso.

Saem do elevador e o rapaz diz que vai o lado direito. A senhora diz que o filho mora no lado direito.
Rapaz: - Ah!!! É a mãe do Filipe. Ele deve estar a dormir, fui ao supermercado e à farmácia. Espere que eu abro a porta.

Entram dentro de casa, a mãe enquanto vai ao quarto ver o filho, este dorme profundamente... O Rapaz vai para a cozinha arrumar as compras e separar os comprimidos nas caixas de plástico. A senhora aparece e pergunta:
Senhora: - Quem é o senhor?!

O rapaz diz que é um amigo de longa data com aquele sorriso, estende a mão e diz que se chama: - Francisco

2 comentários:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Solidariedade irrestrita ...

Francisco disse...

Paulo Roberto

Por isso é que a mãe de Filipe adorava mais Francisco ;)

Beijão