29 outubro 2014

Islão - Sarah Connor "From Sarah With Love"

Reyhaneh Jabbari, detida desde 2007, quando tinha 19 anos, foi enforcada no sábado, acusada de ter matado o homem que a tentara violar. A sua confissão fora obtida sob ameaças e tortura e as organizações de direitos humanos mobilizaram-se, sem êxito, para que tivesse um julgamento justo. A carta que o Observador revela hoje (traduzida da sua versão em inglês) foi escrita em abril e entregue a militantes pacifistas, mas só agora foi revelada.

Nela dirige-se à sua mãe, Sholeh Pakravan, que tinha pedido aos juízes para ser enforcada em vez da sua filha. Na última semana antes do enforcamento, Sholeh só pode ver a filha durante uma hora, acabando por saber da execução com apenas algumas horas de antecedência e através de uma nota escrita.

Aqui fica a transcrição dessa carta que vale a pena ler:

“Querida Sholeh, recebi hoje a informação de que chegou a minha vez de enfrentar a qisas [a lei de retribuição do sistema legal iraniano]. Estou magoada por não me teres deixado saber através de ti que cheguei à última página do livro da minha vida. Não achas que tenho o direito a saber? Sabes o quanto me envergonha saber que estás triste. Porque não me deixaste beijar a tua mão e a do pai?

O mundo permitiu-me viver durante 19 anos. Aquela noite assustadora foi a noite em que eu deveria ter sido morta. O meu corpo seria atirado para um qualquer canto da cidade, e dias depois, a polícia chamar-te-ia ao departamento de medicina legal para me identificar e também saberias que fui violada. O assassino nunca seria encontrado pois nós não temos a riqueza e o poder deles. Tu irias continuar a tua vida em sofrimento e envergonhada, e poucos anos depois morrerias desse sofrimento e nada mais haveria a dizer.

No entanto, esse golpe amaldiçoado alterou o rumo da história. O meu corpo não foi atirado para um lado qualquer, mas sim para a sepultura que é a Evin Prison e as suas alas solitárias, e agora para a prisão-sepultura de Shahr-e Ray. Mas entrega-te ao destino e não te queixes. Sabes melhor do que ninguém que a morte não é o fim da vida.

Ensinaste-me que cada um de nós vem a este mundo para ganhar experiência e aprender uma lição e que cada pessoa que nasce tem uma responsabilidade depositada nos seus ombros. Aprendi que, por vezes, temos de lutar.

Lembro-me muito bem quando me disseste que o homem da carruagem protestou contra o homem que me estava a chicotear mas este acertou-lhe com o chicote no rosto e ele morreu. Disseste-me que, de modo a criar valores, temos de perseverar, mesmo que isso signifique morrer.

Ensinaste-nos que, na escola, devemos enfrentar as quezílias e os confrontos como senhoras. Recordas-te da insistência dos teus reparos sobre o nosso comportamento? A tua experiência estava incorreta. Quando este acidente ocorreu, os teus ensinamentos não me ajudaram. Quando me apresentei em tribunal aparentei ser uma assassina a sangue-frio e uma criminosa implacável. Não verti lágrimas. Não implorei. Não me desmanchei a chorar pois confiava na lei.

No entanto, fui acusada de indiferença perante um crime. Eu nem mosquitos matei e as baratas que tirei do caminho, levei-as pelas suas antenas. E agora tornei-me em alguém que assassina premeditadamente. O modo como trato os animais foi interpretado como sendo masculino e o juiz nem se deu ao trabalho de ver que, na altura do acidente, as minhas unhas eram grandes e estavam pintadas.

Quão otimista é o que espera justiça dos juízes! Ele nunca questionou o facto de as minhas mãos não serem grossas como as de uma desportista, em particular de uma boxeur.

E este país, pelo qual cultivaste um amor em mim, nunca me quis e ninguém me apoiou quando, perante as investidas do interrogador, eu gritava e ouvia as palavras mais obscenos. Quando o meu último indício de beleza desapareceu, ao cortar o meu cabelo, fui recompensada: 11 dias na solitária.

Querida Sholeh, não chores pelo que estás a ouvir. No primeiro dia na esquadra, um agente velho e não casado, magoou-me por causa das minhas unhas e eu percebi que a beleza não é desejável nesta era. A beleza das aparências, dos pensamentos e dos desejos, uma caligrafia bela, a beleza do olhar e da visão e até a beleza de uma voz agradável.

Minha querida mãe, a minha ideologia mudou e tu não és responsável por isso. As minhas palavras não têm fim e dei tudo a alguém para que, quando for executada sem a tua presença e conhecimento, te seja dado a ti. Deixo-te muito material manuscrito como herança.

No entanto, antes da minha morte quero algo de ti, algo que tens de me dar com todo o teu poder, custe o que custar. Na verdade, isto é a única coisa que eu quero deste mundo, deste país e de ti. Sei que precisas de tempo para isto.

Posto isto, vou-te revelar parte do meu testamento mais cedo. Por favor, não chores e presta atenção. Quero que vás ao tribunal e lhes faças o meu pedido. Não posso escrever tal carta, a partir da prisão, que fosse aprovada pelo diretor; mais uma vez terás de sofrer por mim. É a única coisa que, se chegares a implorar por ela, eu não ficarei chateada, embora te tenha dito várias vezes para não implorares por nada, exceto para me salvares de ser executada.

Minha mãe bondosa, querida Sholeh, mais querida para mim que a minha própria vida, eu não quero apodrecer debaixo do solo. Não quero que os meus olhos ou o meu jovem coração se transformem em pó. Implora para que, assim que eu seja enforcada, o meu coração, rins, olhos, ossos e tudo o que possa ser transplantado, possa ser retirado do meu corpo e dado a alguém em necessidade, como uma doação.

Não quero que o destinatário saiba quem sou, que me envie um ramo de flores ou até que reze por mim.

Do fundo do meu coração te digo que não desejo ter uma sepultura onde tu venhas chorar e sofrer. Não quero que vistas roupas pretas por mim. Faz o teu melhor para esquecer os meus dias difíceis. Entrega-me ao vento para me levar.

O mundo não nos amou. Não quis o meu destino. E agora entrego-me a ele e abraço a morte pois no tribunal de Deus eu vou acusar os inspetores, vou acusar o inspetor Shamlou, vou acusar o juíz e os juízes do Supremo Tribunal que me espancaram quando eu estava acordada e que não se absteram de me intimidar.

No tribunal do criador eu vou acusar o Dr. Favandi, vou acusar Qassem Shabani e todos aqueles que, por ignorância ou pelas suas mentiras, fizeram-me mal, passaram por cima dos meus direitos e que não tiveram em conta o facto de que, por vezes, o que aparenta ser realidade não é.

Querida Sholeh de coração mole, no outro mundo tu e eu seremos quem acusa e os outros, os acusados. Veremos qual é a vontade de Deus. Quero abraçar-te até que a morte chegue. Amo-te.”

Mayssa Abdo luta pelo Direito das Mulheres nos países árabes ou mulçumanos. Ela luta para que os Curdos possam ter a sua Liberdade de Expressão. Uma vez que o Estado Islâmico só mata Americanos e Ingleses. Porque os outros estrangeiros pagam, e bem a libertação dos conterrâneos... Caso para dizer que a Europa é uma vendida. Meia dúzia de árabes roubam-nos e nós pagamos para eles estarem sossegados. Um Pouco como os Piratas da Somália...

Querem ver que os Estados Unidos e a Inglaterra ainda vão salvar a Europa do Califá Islâmico?!

Namorado, não me assusta o Islão. Mas, se o Martim Moniz "virar" um local de apedrejamento e enforcamento...

A Turquia cada vez está mais longe da Europa. Sempre fui a favor de "Pontes" entre os Povos. Mas, cada vez mais concordo com a Ideia dos Judeus. Por vezes os Muros são necessários(Muros iguais a Fronteiras). Ainda bem que Portugal tem um Mar e um Oceano como Barreira...

15 comentários:

Mark disse...

Um caso que me chocou. Atentatório da dignidade humana em todos os sentidos. Não só pela pena capital em si, mas também pelo crime que justificou essa pena. Não conheço os contornos do caso, mas nada justifica, nada, a pena de morte. No contexto que foi, e é prematuro e injusto falar, se matou para se defender do abuso sexual, e no momento em que estava prestes a ser violentada, houve legítima defesa, embora isto não seja consensual em toda a doutrina penal portuguesa. Aqui levaria, à partida, a uma causa de exclusão da ilicitude, sendo como enunciei. Retiraria a ilicitude da conduta descrita no tipo incriminador.

Não posso dizer mais desconhecendo os contornos. Claro que num país que não respeita o principio da dignidade da pessoa humana, situações horrorosas destas sucedem-se com frequência.

João Roque disse...

Esta carta é magnífica.

m. disse...

também li. emocionei-me.
o que eu abomino são os fundamentalismos e interpretações dos livros sagrados a bel-prazer. duvido que se conversares com o imã da mesquita de Lisboa, ele aprove semelhantes e abjectos actos.
e por cá? há maridos e namorados que matam as mulheres e as filhas por ciúmes. e quando uma mulher se defende de anos de violência doméstica, matando o cônjuge, cadeia com ela, largos anos. por outro lado, temos o Pistorius que assassina a namorada e leva 5 anos. é o preço da vida de uma mulher...
bjs.

Francisco disse...

Mark,

A parte que mais me tocou, foi ela dizer para a mãe dar os orgãos a quem precise...

Caso para dizer: Naqueles países, morrem quase sempre jovens com histórias que não lembra o diabo...

Será, que não existe ali muito tráfico de orgãos?! Não há registos, é sempre a andar para a frente...

Abraço amigo

Francisco disse...

João Roque,

Uma carta que toca bem cá dentro de nós...

Abraço amigo

Francisco disse...

Margarida,

Também nunca gostei de fundamentalismos. Quanto a uma Religião, que coloca mulheres tapadas e que mal saem de casa num país que se diz da Europa...

Morei em Odivelas e agora moro na Amadora.

Numa estação que metro, onde li: Fátima Bang Bang, fumo muito fumo..."

"Duvido que se conversares com o imã da mesquita de Lisboa, ele aprove semelhantes e abjectos actos"

Sou Católico Há muitos anos, e nunca ouvi, nem nunca li:
"Mesquita de Lisboa, de Odivelas, Amadora, Carnaxide, etc etc tais coisas...

Engraçado que se juntarem meia dúzia de gajos portugueses numa praça de Lisboa e que digam que são de Extrema Direita, está lá a Polícia em Peso...

No Martim Moniz, vês lá algum?!

Beijinhos Grandes

m. disse...

Francisco, Portugal, apesar de tudo, é tolerante. ainda não assisti a manifestações deste género por cá, seja no Martim Moniz ou em outra área. dentro de uma casa, cada qual discute como quer, e de certeza que há muito português católico que acha que o lugar da mulher é em casa a ter filhos e mais filhos e a cuidar da casa e a mimar o homem. e elas calam e consentem, mesmo porque muitas não têm sustento. não falo das que, por opção, escolhem essa via.
bjs.

Anónimo disse...

Uma carta profunda e cheia de sentimento.

Francisco disse...

Margarida

Por cá, de facto é uma tristeza que um homem leva menos pena de prisão por matar a mulher, do que vice-versa...

Estamos a atravessar uma fase de valores, que é para dizer: Vai lá vai...

Beijinhos Grandes

Francisco disse...

Margarida,

Os homens foram educados pela mãe. Nos Mulçumanos é igual. A telenovela "Mulheres" mostra bem, porque a outra levava porrada até mais não...

De facto somos um povo muito tolerante, e bastante compreensivo com os emigrantes. Afinal, fomos um Povo de conquistas e que dava muito bem com a população local. :)

Mais, tarde também foi um país de emigrantes...

Adorei ver a Comunidade Cigana andar aos tiros com os Negros de um Bairro Social. Depois vieram pedir ajuda a nós brancos, para colocar água na fervura LOLOLOLOLOLOLOLOLOLOLOLOL

Beijinhos

Francisco disse...

Pedro Sampaio

Obrigado pela visita e comentário

Muito profunda mesmo

Abraço

silvestre disse...

É por esta razão que não visito países como o Irão, Paquistão, Rússia ou mesmo a Índia e fico chocado quando amigos visitam. Não suporto o atropelamento grosseiro dos direitos fundamentais do homem. Não aceito. Não vou aceitar. Não podemos mudar a lei, mas podemos boicotar o país. Gostava que houvesse um mundo de Deus e que lá os inspectores e juízes pudessem verdadeiramente ser acusados. Infelizmente não será assim...

Francisco disse...

Silvestre

Eu gosto muito de visitar países islâmicos, não posso boicotar porque sou pobre(recordo-me dos Jogos de Inverno em Soshi na Rússia)...

Por vezes posso é lembrar que eles existem e estando nós em pleno século XXI

Como é possível?!

Abraço

Lobo disse...

Fiquei sem palavras.

Francisco disse...

Namorado

:(